Para que(m) serve o teu conhecimento?
Estava esses dias zanzando pelo facebook e de repente me surge essa imagem. A primeira impressão foi olhar os contornos da imagem. O grafite, a arte, e por fim me atentei a frase. Ela me pegou em cheio. “Para que(m) serve o teu conhecimento?” Essa frase me tocou por que é um tema que vivo discutindo e problematizando com meus amigos, colegas de mestrado, alunos, orientandos, clientes de consultoria.
Qual é o sentido de seu conhecimento? A quem ou a quê ele te serve? O que ele move? O que ele modifica?
Em um texto falando sobre a pesquisa eu mencionei que não há como você pesquisar desprovido de interesses e sentimentos, como a ciência positivista diz. Principalmente quando você faz uma pesquisa de cunho social. Ora, acredito que todas as pesquisas devam ser revertidas para o social. Você pode pensar que um ensaio clínico feito dentro de um ambiente controlado como o laboratório só serve aos interesses do pesquisador que está realizando o experimento. Mas…pense bem! Em algum momento, o resultado daquele estudo se transformará em um medicamento, uma nova terapia, um novo método de cuidado, uma nova estratégia para solucionar problemas cotidianos.
Não há como a ciência ser neutra. Ela está permeada pelo seu interesse. Pela sua vontade. E o conhecimento que você constrói, presta um serviço ao outro. E é aqui que reside o valor de um pesquisador e de sua pesquisa. Vou contar para vocês um caso que me mexeu muito e me propôs a uma reflexão crítica sobre o papel do pesquisador e da academia para a sociedade. Eu faço mestrado e minha pesquisa na área de gênero e saúde, especificamente eu trabalho com mulheres transexuais e travestis e as implicações para o seu acesso a serviços de saúde e promoção de saúde sexual. É um público de difícil acesso e é compreensível que seja pois, a nossa sociedade é cheia de discriminação, preconceito e são pessoas que sofrem diariamente com isso.
Através de contatos, eu consegui chegar em algumas delas…algumas toparam participar da minha pesquisa, outras não responderam ao meu convite. Em um certo dia, na tentativa de agendar a entrevista com uma participante ela foi bem clara em me dizer que estava cansada de ser objeto de pesquisa dos outros. Que as pessoas vinham das faculdades, entrevistavam-a, pesquisavam sobre sua vida e no final ela não era nem ao menos convidada para presenciar a apresentação do trabalho final. Ela ainda me disse que estava cansada de não ver retorno do que se fazia nas Universidades. Bom…a partir desse momento eu comecei a me questionar se estamos dentro da Academia para pesquisar apenas pelo título ou se a finalidade das nossas pesquisas são empáticas.
A partir do que ouvir dessa mulher, eu refleti e cheguei a conclusão que esse problema da serventia da pesquisa ou da Academia é uma faca de dois gumes. De um lado há realmente a mediocridade acadêmica cujo o interesse é apenas de sua vaidade, da obtenção de um título. Tem esse lado vergonhoso em que não há a importância de levar o conhecimento apreendido e pesquisado para além dos muros das Universidades. Não me admira ver tantas pessoas com suas pesquisas amontoadas nos arquivos dos programas de graduação, pós-graduação, por que “precisava apenas do título”, para poder melhorar seu salário ou satisfazer seu ego.
Mas no outro fio, tem as pesquisas cujo os seus pesquisadores intencionam trazer respostas e soluções para problemas do seio social. Que entendem a importância de seus estudos para prover melhorias cotidianas, ou da vivência de uma determinada população. Entretanto, pesquisas demoram tempo para surtir resultados, principalmente quando vivenciamos tempos nefastos de cortes na educação, desenvolvimento e pesquisa. Quando vemos o desmonte do aparelho público ou o motim contra as políticas sociais. Mas essa é uma história e uma problemática para outro momento de discussão…
O que eu quero chegar nisso tudo é provocar você, estudante, seja de qualquer fase de formação, a se questionar para que seu conhecimento serve. A quem ele se destina. O que ele vai mudar. Quem ele vai mudar. Reflita sobre seus interesses e se ele envolve alguém mais além de você.
Para mim o conhecimento não deve se tornar um “amontoado” de papel arquivado nas Universidades. Ele deve sair de lá e se fazer parte da sociedade, motivar outras pesquisas, provocar as pessoas, estimular a ação. Pesquisa deve servir as pessoas, deve criar e propiciar melhorias e mudanças. Tem que ter objetivo para além do ambiente controlado do laboratório, da biblioteca ou sala de estudos.